Quando tudo falha, quem fala permanece

Imagine um cenário de enchente, blecaute ou ataque cibernético. Celulares mudos. Internet fora do ar. Linhas congestionadas. Nesse silêncio forçado, quem tem um rádio — e sabe usá-lo — continua em contato com o mundo.

O rádio, em suas diversas formas, não é uma relíquia — é uma das ferramentas mais resilientes de comunicação já criadas. E neste mês, vamos mostrar como ele pode ser parte do seu plano de preparação familiar, comunitária e cidadã.

Comunicação de Emergência no Brasil: Como o Rádio Entrou para a História

Em diversas ocasiões no Brasil, o rádio demonstrou ser mais que uma ferramenta de entretenimento ou hobby. Ele se mostrou essencial em cenários de crise, como:

  • Acidente aéreo do vôo Gol 1907 (2006): Após a colisão da aeronave brasileira com um jato americano Legacy, radioamadores auxiliaram na localização dos destroços e na transmissão de informações críticas às equipes de busca e resgate.
  • Região Serrana do Rio de Janeiro (2011): Durante as chuvas e deslizamentos que devastaram a região, deixando várias localidades isoladas, os radioamadores foram fundamentais para transmitir informações aos órgãos de resgate e coordenar a ajuda humanitária.
  • Brumadinho (2019): Durante o rompimento da barragem, o colapso das comunicações convencionais fez com que os primeiros socorristas e voluntários utilizassem exclusivamente rádios para organizar resgates.
  • Amapá (2020): Um apagão elétrico de mais de 20 dias afetou a comunicação. Rádios PX e PY, alimentados por geradores e baterias, mantiveram informação fluindo.
  • Rio Grande do Sul (2024): Enchentes cortaram energia e redes móveis em centenas de municípios. Radioamadores, integrados à Defesa Civil via RENER, garantiram comunicação entre pontos isolados.

A História do Rádio de Comunicação no Brasil

O rádio chegou ao Brasil ainda no início do século XX, mas foi a partir de 1922 que ele ganhou uso sistematizado com a primeira transmissão oficial de rádio feita para celebrar o centenário da independência. Pouco tempo depois, o uso do rádio para comunicação entre pontos distantes, principalmente na aviação e serviços marítimos, tornou-se vital para o país de dimensões continentais.

O radioamadorismo ganhou reconhecimento oficial em 1924, quando se iniciou a regulamentação dessa atividade. A Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (LABRE) foi fundada em 1934, consolidando a representação da classe junto ao governo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, radioamadores foram essenciais para repassar informações e organizar redes de apoio. Esse papel ganhou ainda mais relevância nas décadas seguintes com a criação de redes formais como a RENER.

Hoje, o Brasil possui milhares de radioamadores ativos, autorizados pela Anatel, e que operam desde faixas PX (faixa do cidadão, 27 MHz) até classes PY, passando por VHF, UHF e HF.

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O Papel da LABRE e da RENER

A Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (LABRE) é uma organização reconhecida nacionalmente que coordena e capacita radioamadores em situações de emergência.

Já a RENER (Rede Nacional de Emergência de Radioamadores) funciona como elo direto com a Defesa Civil, ativando redes de comunicação descentralizadas em caso de desastres. É uma rede que, mesmo sem depender de internet ou energia constante, continua funcionando graças à estrutura voluntária de radioamadores.

O Que Ainda Pode Acontecer

Com eventos climáticos extremos aumentando, ataques cibernéticos mais frequentes e sobrecarga de redes, é previsível que veremos:

  • Mais blecautes e apagões regionais.
  • Interrupções intencionais ou não planejadas de comunicação.
  • Desastres naturais isolando comunidades inteiras.

Por isso, ter um rádio funcional em casa ou mesmo um simples HT (Handy Talkie) é um diferencial que vai além do hobby. É uma estratégia de segurança real.

Pontos Positivos em Ter um Rádio Funcional ou HT em Casa

  • Autonomia total: não depende de internet ou operadoras de celular.
  • Facilidade de uso: HTs são acessíveis, simples e rápidos para comunicar em curto alcance.
  • Resiliência: funcionam com bateria, energia solar ou geradores.
  • Integração comunitária: permite contato com vizinhos, grupos de bairro ou redes de radioamadores.
  • Valor legal e social: com certificação adequada, contribui para a defesa civil e ajuda humanitária.

Energia de Emergência: Como Manter seu Rádio Operacional

A luz pode até acabar, mas a comunicação não precisa cessar. Rádios podem ser alimentados por:

  • Nobreaks (UPS): sistemas de baterias que mantêm o funcionamento de equipamentos por horas após uma queda de energia.
  • Baterias de carro: com adaptadores e inversores apropriados, é possível alimentar rádios diretamente de uma bateria veicular.
  • Painéis solares: em locais preparados, painéis solares alimentam baterias dedicadas exclusivamente à comunicação.
  • Geradores a combustível: opção robusta para quem precisa manter uma estação completa em operação.

Essa versatilidade reforça a importância do rádio como pilar estratégico da preparação consciente.

Quem se prepara para comunicar em tempos de crise amplia sua capacidade de agir com autonomia e prestar ajuda real à sua rede de contatos — seja ela sua família, vizinhança ou comunidade ampliada.


Editorial Defesa TV

Fontes de Consulta:
Esta matéria foi elaborada com base em dados e informações disponíveis nos portais oficiais do Ministério da Defesa, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, de relatórios técnicos da CPRM e de documentos públicos sobre os eventos de Brumadinho, Amapá e Rio Grande do Sul.

Nesta coluna, levamos a preparação a sério: não como medo, mas como consciência.

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