Durante o Campeonato Mundial de Surf da WSL em Saquarema (Challenger Tour – VIVO Rio Pro), moradores do bairro Itaúna enfrentaram não apenas noites de som alto e festas descontroladas, mas também um verdadeiro colapso no trânsito e uma ausência total de gestão pública. O evento, que poderia ser referência de organização e hospitalidade, acabou se transformando em motivo de revolta entre os residentes.

Barulho, festas e desrespeito ao decreto municipal

Apesar da vigência do Decreto 2.996/2025, que proíbe festas em áreas residenciais com som alto e estabelece regras claras para atividades musicais até às 23h30, a falta de fiscalização da Prefeitura permitiu que casas alugadas virassem verdadeiras baladas. Moradores relataram festas que vararam a madrugada, com som alto até 5h e 6h da manhã, afetando até atletas do campeonato, impedidos de descansar antes das baterias.

Os relatos são contundentes: “Atrás da minha casa foi até as 5h da manhã”, “O som chegou até a reserva”, “Atletas não conseguiam dormir sem saber se competiriam cedo”. As festas foram protagonizadas por um público que nada tinha a ver com o espírito do surf, contribuindo para a sensação de desordem.

Trânsito caótico e abandono logístico

Além do barulho, o trânsito em Saquarema colapsou. Milhares de carros tomaram todas as vias de Itaúna e adjacências, com congestionamentos severos na Avenida Saquarema, principal via de acesso à região. Moradores denunciaram carros na contramão, estacionados em locais proibidos, calçadas invadidas e ausência total de orientação viária.

Faltou o básico: não havia nenhuma faixa, placa ou sinalização que orientasse o turista até o local do evento. Era “cada um por si”, o que agravou ainda mais o caos urbano. A impressão deixada é de que não houve sequer um esboço de planejamento de mobilidade.

Soluções simples ignoradas

Gestão pública eficiente se faz com inteligência, e não com improviso. Uma das sugestões apontadas por moradores para evitar o caos em futuras edições do WSL seria a ativação do estacionamento do Aeroporto de Saquarema, com ônibus gratuitos – pagos por patrocinadores do evento – realizando o trajeto Aeroporto x WSL e vice-versa. Bastariam seis veículos operando continuamente, aliados ao fechamento de vias para Itaúna, liberando o acesso apenas para moradores e serviços essenciais.

Outra medida simples seria a presença estratégica de agentes de trânsito em pontos críticos da cidade. O que se viu, porém, foi o oposto: todos os agentes estavam concentrados exclusivamente na área do evento, enquanto as demais regiões da cidade enfrentavam desorganização total.

Anúncio

Uma cidade vitrine, mas para quem?

A percepção dos moradores é de que Saquarema se transformou em um outdoor político para impressionar turistas, mas ignorando por completo as necessidades básicas de quem mora na cidade. A falta de planejamento, gerenciamento e respeito à população local levanta um questionamento necessário: é possível receber grandes eventos sem sacrificar a qualidade de vida da comunidade?

A resposta é sim, mas isso exige postura firme, disciplina administrativa e vontade de fazer diferente. Ter grandes eventos não é apenas assinar contratos com patrocinadores e entidades esportivas. É garantir que a cidade esteja preparada para recebê-los com organização, segurança, estrutura e, acima de tudo, respeito ao cidadão.


Editorial Conexão Lagos – WhatsApp: (21) 97949‑0675
Envie suas sugestões, pautas e relatos da sua cidade. Comente, compartilhe e ajude a dar voz à comunidade.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui