Enquanto a cidade indiana é lembrada por seus engarrafamentos, Saquarema adiciona uma camada de desrespeito generalizado às leis de trânsito que desafia a lógica e a segurança. E sim, os cães parecem mais civilizados… e talvez até usem mais os freios imaginários do que alguns pilotos.
A comparação de Saquarema com Mumbai por conta do trânsito já se tornou um amargo clichê entre moradores e frequentadores assíduos. Se na metrópole indiana o volume de veículos é o principal vilão, por aqui, na nossa “Capital Nacional do Surf”, infelizmente, adicionamos um tempero local indigesto: uma escalada de ‘barbaridades’ diárias e um desrespeito flagrante às leis que transformam o simples ato de ir e vir numa verdadeira selva motorizada.
O que se assiste nas ruas de Saquarema, especialmente em Bacaxá, no Centro e nos acessos às praias, vai muito além do simples congestionamento. É um retrato da impunidade percebida, da falta de fiscalização efetiva e, sejamos honestos, de uma preocupante falta de civilidade por parte de muitos condutores.
O Catálogo das Infrações Saquaremenses:
Se Mumbai tem seus desafios de volume, Saquarema compete com um repertório de infrações que desafiam a paciência e, mais grave, a segurança de todos:
- Motos na Contramão, Acrobacias Indesejadas e a Curiosidade do Freio Ausente: As motocicletas, que deveriam ser uma solução ágil, frequentemente se tornam vetores de perigo. É comum vê-las costurando perigosamente pela contramão, realizando manobras arriscadas como ’empinar’ em vias movimentadas, e ignorando sem cerimônia sinais vermelhos. A pressa de alguns não pode justificar o risco imposto a todos. E aqui, uma curiosidade que beira o enigma para o cidadão comum: por que tantos pilotos de moto em Saquarema parecem desconhecer o pedal ou manete de freio? Será que as motos vendidas na região vêm apenas com acelerador e buzina? É intrigante observar, repetidas vezes, situações onde haveria tempo e espaço mais do que suficientes para o motociclista diminuir a velocidade, aguardar a sua vez ou até mesmo desviar com segurança de um obstáculo ou veículo mais lento. Mas, contrariando qualquer lógica de autopreservação ou respeito ao próximo, a reação padrão de muitos é acelerar em direção ao perigo iminente, acionando a buzina de forma frenética e contínua, como se isso fosse um escudo mágico ou transferisse instantaneamente a responsabilidade de evitar o acidente para o outro.
- Ciclovias? Terra de Ninguém! As ciclovias, que deveriam ser santuários para bicicletas e veículos similares, tornaram-se um exemplo da anarquia. Bicicletas elétricas, muitas vezes em velocidades incompatíveis, disputam espaço com carros nas vias principais, quando seu lugar seria na ciclovia. Mas nem lá há paz: bicicletas e motociclos trafegam na contramão nas próprias ciclovias, que também são invadidas por carros e motos maiores, expulsando quem deveria estar ali.
- A Inversão de Valores no Asfalto: Carros parados na contramão, como se fosse uma vaga legítima, já não chocam tanto quanto deveriam. Faixas que, teoricamente, seriam destinadas a estacionamento, são transformadas em pistas de rolamento pelos “apressadinhos”.
- Estacionamento Criativo (e Caótico): A criatividade para estacionar em Saquarema parece não ter limites – para o mal. Filas duplas são consideradas “normais” por muitos, mas em pontos críticos, como próximo a comércios e bancos, a audácia evolui para filas triplas, estrangulando o já combalido fluxo e testando os limites da paciência alheia.
Enquanto Isso, os Doguinhos Dão o Exemplo…
E em meio a esse cenário que beira o surreal, emerge uma observação que nos faz corar de vergonha: os cães de Saquarema. Sim, os nossos queridos “doguinhos”! Múltiplos relatos e flagrantes comprovam: muitos deles esperam pacientemente o sinal fechar para os carros e, pasmem, atravessam na faixa de pedestres.
A ironia é cortante. Enquanto nós, seres humanos dotados de razão e (supostamente) cientes das leis e das consequências de nossos atos, promovemos um espetáculo de imprudência, os animais demonstram um senso de ordem e respeito às regras que deveria nos servir de lição.
Precisamos de Aulas com os Doguinhos?
A pergunta, carregada de ironia, é inevitável: será que a população motorizada de Saquarema está precisando de um curso intensivo de civilidade e respeito às leis de trânsito com os exemplares caninos da cidade?
Brincadeiras à parte, a situação é gravíssima e exige uma resposta multifacetada e urgente. É preciso mais do que multas esporádicas. Necessitamos de fiscalização constante e ostensiva, campanhas educativas que realmente toquem na ferida da responsabilidade individual, e um planejamento urbano que repense a mobilidade para além do carro.
Mas, acima de tudo, precisamos de uma mudança de mentalidade. Cada motorista, cada piloto, cada ciclista precisa entender que as leis de trânsito não são meras sugestões, mas sim pilares para uma convivência harmônica e segura. E, por favor, que redescubram a existência e a utilidade dos freios.
Antes que a “Mumbai brasileira”, com suas “barbaridades” tupiniquins e buzinaços ensurdecedores, se torne um rótulo definitivo e motivo de vergonha, é hora de Saquarema acordar e seguir o exemplo de seus cidadãos de quatro patas. Eles, ao que parece, já entenderam tudo. E provavelmente usariam o freio se tivessem um.
Este é um artigo de opinião e reflete a percepção sobre o tema. O Conexão Lagos está aberto a ouvir as autoridades municipais, especialistas em trânsito e a comunidade sobre os desafios e soluções para a mobilidade urbana em Saquarema.
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