Ai, meu Brasil carnavalesco, se incoerência fosse enredo, a Grande Rio já entrava na Sapucaí com nota 10 em todas as cabines. Mas não, meus amores, eles preferiram bater tambor com a batida do Pix e coroar como rainha de bateria ninguém menos que Virginia Fonseca, a Barbie das Bets, a musa da monetização online, que trocou o “ai, bebê” por “ai, comissão parlamentar de inquérito”.
Sim, a mesma que andou desfilando nos corredores da CPI das Apostas, com carinha de quem foi fazer “publi” e acabou tropeçando numa investigação. Agora, ela é a nova majestade da escola de samba cujo próximo enredo é sobre Manguebeat, aquele movimento lindo, suado, cheio de barro e consciência social nascido nos becos de Recife, contra a desigualdade e o abandono. Ou seja: botaram a Virginia, símbolo do privilégio instantâneo e da riqueza meteórica (e polêmica), pra representar uma narrativa de resistência popular.
Alguém avisa que a batida do Mangue não combina com a estética do feed patrocinado?
O povo da comunidade que geralmente só aparece no discurso emocionado do intérprete na dispersão, dessa vez resolveu botar a boca no trombone ANTES do desfile. E tá certíssimo. A própria arquibancada da Grande Rio, aquela que se pinta com guache e esperança todo ano, se revoltou com a escolha, chamando a escola de hipócrita nas redes. E com razão: como é que se fala de desigualdade social com uma rainha que faturou alto em cima de apostas, cujas vítimas muitas vezes vêm exatamente da mesma camada social que o Manguebeat tenta dar voz?
É o equivalente a botar o Lobo Mau pra desfilar como destaque na ala da Chapeuzinho Vermelho.
Claro que a escola publicou aquela recepção padrão “Bem-vinda, Rainha”, com todo o glitter institucional possível, ignorando que a comunidade gritou “coroa errada” antes mesmo do ensaio técnico. E não se trata de xenofobia contra influencer do Goiás, nem recalque digital. O babado é coerência ideológica, minha gente. É sobre não transformar uma luta de base em passarela pra bilionários de Wi-Fi.
Carnaval é fantasia, sim. Mas também é história, é crítica social, é protesto com purpurina. E ver uma escola como a Grande Rio virar esse samba do marketing doido é de dar tilt até no algoritmo da Alexa.
O problema não é ter rainha rica, é ter rainha que pisa nos princípios do próprio enredo. Porque se é pra defender desigualdade social, começa tirando do trono quem lucra em cima dela.